domingo, abril 30, 2006
Kings of Convenience | Aula Magna | 29-04-06


The loneliest people / Were the ones who always spoke the truth / The ones who made a difference / By withstanding the indifference (“Misread”)

Após terem estado há cinco anos em Portugal, os Kings of Convenience regressam a terras lusas para nos brincar com um concerto extraordinário.
Esgotado em relativamente pouco tempo, o concerto de Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe foi simultaneamente intimista e divertido (não que sejam antónimos, mas a simbiose foi quase perfeita).
Os dois noruegueses cantaram algumas das suas músicas mais célebres, como “Love is No Big Truth”, “Toxic Girl”, “Now-How” ou as lindíssimas “Wining a Battle, Losing the War” e “Misread” e Eirik até cantou num brasileiro arranhado o triste “Corcovado” de Tom Jobim. Acabaram por chamar o público do anfiteatro a juntá-los no palco para “I Rather Dance With You”. Entre alguma confusão com a segurança, o palco ficou cheio de espectadores (eu entre eles!), que maravilhados dançaram em pé e sentados escutaram atentamente os concentradíssimos Erlend e Eirik, que com as suas guitarras acústicas e vozes suaves em plena sintonia maravilharam toda a Aula Magna.

Os Kings of Convenience começaram por editar “Quiet is the New Loud” (2001), sendo o seu último trabalho “Riot on an Empty Street” (2004). Erlend Øye é dj e Eirik Glambek Bøe é formado em psicologia. Juntos desde a juventude, onde fizeram parte de uma banda de covers dos Joy Division, alcançaram a aclamação mundial como Kings of Convenience. A sua música pode ser definida como neo-folk, denotando-se influências de nomes como Simon & Garfunkel ou Belle & Sebastian (que estarão por cá em Julho!). Nas suas letras falam da beleza simples do quotidiano e do carácter agri-doce das relações. De uma profundidade despretensiosa, atingem uma beleza rara que roça a perfeição.
O concerto de ontem na Aula Magna evidenciou a adesão do público português à sua música e demonstrou dois artistas que nunca perdem a qualidade mas que por vezes permitem que cheguemos mais perto fisicamente do que cá dentro compreendemos por inteiro.

Alinhamento:
Until You Understand
Love Is No Big Truth
Cayman Islands
I Don't Know What I Can Save You From
Winning A Battle, Losing The War
Gold In The Air Of Summer
Singing Softly To Me
The Girl From Back Then
Corcovado (original de Tom Jobim)
Homesick
Stay Out Of Trouble
Know-How
The Boat Behind (inédita)
Misread
Toxic Girl
I'd Rather Dance With You

encore:
Parallel Lines
Waiting In Vain (original de Bob Marley)
Little Kids
posted by Anónimo @ 11:50 da manhã   0 comments
sábado, abril 29, 2006
IndieLisboa | The Proposition


Até ontem, as minhas escolhas no festival lisboeta tinham tido um sabor a desilusão. Passando por obras menores como Mary e filmes medianos sem serem excepcionais como Mutual Appreciation, All the Invisible Children e M/other, a verdade é que faltava um filme que me arrebatasse verdadeiramente. E eis que chega The Proposition.

Escrito pelo famoso Nick Cave, The Proposition é um western que conta a história dos irmãos Burns. Sendo procurados por toda a Austrália devido aos actos bárbaros por si cometidos, dois dos três irmãos acabam por ser capturados pelo Capitão Stanley. E é aí que a proposta é feita. Charlie Burns tem nove dias para capturar e matar o seu irmão mais velho e líder do bando, Arthur Burns. Caso não cumpra o acordo, o seu irmão mais novo (Mike Burns) é enforcado no dia de Natal.

Este é o ponto de partida para um filme fantástico que tem a morte e a violência como ponto central. Nick Cave tem aqui um ensaio fascinante sobre a influência da violência e da brutalidade na vida das pessoas. Aqui não só é retratada a violência dos criminosos como também aquela que é praticada em nome da justiça. Na verdade, o filme não entra na espiral que seria mais previsível de que "o crime não compensa". Não. O desenrolar da história mostra-nos que até os mais pacíficos, em nome da justiça e da vingança, são capazes de actos igualmente hediondos como aqueles que condenaram. Exemplo perfeito disto mesmo é a cena em que uma das personagens é impiedosamente chicoteada, onde a carga emocional é deveras impressionante. Porém, nem só da brutalidade vive o argumento deste filme, muito devido à tridimensionalidade das personagens. De facto, tanto a personagem de Guy Pearce, Charlie Burns, como, principalmente, a personagem de Ray Winston (Capitão Stanley), são assaltados por dúvidas existenciais que marcam o percurso de ambos.

No entanto, se o argumento é muito bom, todos os outros aspectos são de simultânea qualidade. Começando pela realização de John Hillcoat, este fez um trabalho incrível, não só pela aproximação que permite aos telespectadores, como pelos planos imbuídos de um lirismo forte e de incontestável presença. Com lirismo do filme está igualmente relacionada a sua fotografia, que ameaça ser um dos melhores trabalhos deste ano, juntamente com a banda-sonora que se funde com os planos e com a acção do filme.

Um último apontamento em relação aos actores. Todos, sem excepção, têm aqui um trabalho admirável. Sobressai naturalmente Guy Pearce pelo seu olhar perdido e de redenção, Emily Watson pela sua entrega e expressividade, Danny Huston pela composição fascinante do perigoso irmão Arthur, Ray Winstone pelo olhar perdido e receoso e, finalmente, John Hurt que, independentemente do pouco tempo em cena, tem uma performance arrasadora.

The Proposition é assim um filme fascinante. Claramente um dos melhores do Indie e seguramente um dos melhores de 2006, é um excelente motivo para ir ao cinema. Estando previsto estrear em Portugal, este filme torna-se desde já obrigatório uma vez que independentemente da atmosfera cruel e violenta, consegue ser um retrato brilhante do homem, tanto da sua racionalidade como do seu lado mais animalesco.

Classificação:
posted by P.R @ 3:40 da tarde   1 comments
sexta-feira, abril 28, 2006
Indie Lisboa | Indie Music | Leonard Cohen: I'm Your Man

Leonard Cohen é um daqueles nomes cuja música me lembro de ouvir desde miúda, por influência dos meus pais. Só mais tarde descobri que por trás daquelas canções de voz grave e tamanho sentimento estava um poeta extraordinário.
O documentário Leonard Cohen: I’m Your Man, produzido por Mel Gibson e pela australiana Lian Lunson que também realiza, é um misto de concerto tributo e entrevista com Cohen e alguns músicos que por ele foram marcados, como os U2 ou Rufus Wainright. Exibido hoje no Fórum Lisboa no âmbito do Indie Music, rubrica do Indie Lisboa 2006, esta obra é um tributo satisfatório mas nunca alcança uma qualidade cinematográfica digna de registo.

O filme inicia-se com uma interpretação de “I’m Your Man” por Nick Cave e termina, já enquanto passam os créditos finais, com a canção original cantada por Cohen. Ela intitula esta obra :e palavras são escusadas para enaltecer a sua poesia e musicalidade excepcionalmente sedutoras.

Apesar de o teor das entrevistas ser curioso (nomeadamente a história de como Rufus Wainright pela primeira vez conheceu Cohen pessoalmente) e das interpretações feitas por Nick Cave, Martha e Rufus Wainright, Anthony, Beth Orton ou Jarvis Cocker (entre outros) serem bastante boas, o filme funciona apenas como homenagem a Leonard Cohen nas suas facetas de poeta, compositor e intérprete – mas também homem enquanto ser familiar, espiritual, etc. – demonstrando uma certa desorganização narrativa, planos insatisfatórios nas filmagens do concerto e uma oscilação não controlada entre cor e preto e branco (funcionando sempre melhor na última opção). Um trabalho certamente feito com amor mas evidenciando uma dose de amadorismo a lamentar.

Quem aprecia Leoard Cohen certamente deu o seu tempo por bem gasto – eu incluída – mas não será certamente um documentário musical incontornável (como por exemplo No Direction Home: Bob Dylan de Martin Scorsese), não deixando marcas especiais após o seu visionamento. Apenas estimula para a versão áudio do concerto e, claro, dos originais de Cohen.


Classificação
posted by Anónimo @ 9:56 da tarde   0 comments
quinta-feira, abril 27, 2006
Indie Lisboa | M/other



A sensação depois de ver M/other é, acima de tudo, ambígua. Não é um filme marcante, mas também não passa despercebido. M/other mostra a vida de um casal, o seu dia-a-dia, a relação da nova mulher com o filho, fruto do primeiro casamento. No fundo, como se qualquer um de nós levasse uma câmara atrás de nós, captando todos os momentos. Os passos, as expressões, os sentimentos.

É isso que agrada no filme e que nos faz permanecer atentos durante as duas horas e meia de filme. É bastante extenso e pode por vezes cair no erro de acentuar demasiado o peso das cenas, correndo o risco de quebrar o interesse e cansar o telespectador. No entanto, o facto de a vida a dois ser retratada de forma tão verosímil e natural, torna-se, efectivamente, fascinante. As conversas longas, pausadas, os silêncios constrangedores, as dificuldades em mostrar ao outro o que nos vai dentro da alma… Nobuhiro Suwa consegue captar esses pormenores de uma forma muito bem conseguida, transmitindo uma sensação de partilha. Parece que assistimos ao filme fazendo também parte dele, talvez por reconhecermos um quotidiano de tal modo, óbvio e banal, como uma simples conversa ao telefone, ou uma tarde em que os miúdos vão brincar lá a casa. Na verdade, acredito que a credibilidade do filme se deve, em grande parte, aos actores, com especial ênfase no jovem Shun, que está, na minha opinião, especialmente bem.

No fundo, julgo que M/other faz-nos reflectir sobre os pequenos momentos da vida aos quais por vezes não damos muita importância. Faz-nos pensar no nosso próprio rumo, e se realmente em todas as casas se vivem dilemas diários e de lutas difíceis. No final, o conselho é concentrarmo-nos na essência de cada personagem e de cada diálogo, tentando assim passar mais facilmente por cima da duração gigantesca deste filme.


Classificação:
posted by Ana Silva @ 12:32 da manhã   1 comments
quarta-feira, abril 26, 2006
Video da semana | U.N.K.L.E. ft. Thom Yorke| Rabbit In Your Headlights


Este surpreendente vídeo, realizado por Jonathan Glazer, o mesmo de Birth com Nicole Kidman, é daqueles que nunca mais me saíu da cabeça desde que o vi. Mais perto de uma curta-metragem do que de um simples videoclip a sua história é fascinante, o realismo com que está filmado é arrepiante e tem um plano final daqueles que ficam para a história. Como se tudo isto não chegasse, a música é fabulosa e ainda mais quando a voz é a de Thom Yorke, dos Radiohead.

Este era daqueles que se tivesse de levar estrelas estariam lá as 5 de certeza.
posted by not_alone @ 9:11 da tarde   3 comments
Indie Lisboa | All The Invisible Children



Apresentado hoje em antestreia no Indie Lisboa, All the invisible children é uma co-produção MKFilms, Rai Cinema e Unicef. As suas receitas pelo mundo fora revertem em partes iguais para a Unicef e a FAO, para que as histórias que nos são mostradas no ecrã por sete realizadores conceituados possam ter lugar cada vez menos vezes no mundo real. O filme resulta da junção de sete curtas-metragens, cada uma realizada por uma pessoa diferente, tendo cada segmento lugar num país, geralmente a terra-natal do realizador. Os títulos, à excepção da parte de Spike Lee, têm como título o nome da ou das crianças protagonistas.

O primeiro segmento, “Tanza” é realizado por Mehdi Charef, realizador argelino que nos traz uma história de um país africano. É-nos mostrada a realidade de um grupo de crianças-soldado, sendo a curta centrada numa delas, o jovem Tanza, de doze anos, encarregue pelo chefe do seu grupo de colocar uma bomba na escola da sua aldeia-natal. O facto de estarmos perante um realizador pouco conhecido não dirá qualquer mérito a este olhar simultaneamente crítico e inocente da realidade africana. O final é o mais belo de todos, mas contá-lo seria estragar parte da sua intensidade.

A segunda curta é de todas a minha favorita. Passada na Sérvia e realizada por Emir Kusturica, “Blue Gipsy” é puro Kusturica. Há música a entrar pelos nossos ouvidos e a entranhar-se no corpo, há um certo número de situações cómicas, há personagens extremamente expressivas. E o universo dos ciganos tão bem mostrado por Kusturica em Gato Preto, Gato Branco, volta a estar em foco, desta feita num registo mais sério: a obrigação que muitas crianças ciganas têm de roubar a mando dos pais. O adorável pequeno cigano loiro protagonista desta história quer escapar à violência do pai e ser barbeiro. Apesar de nenhum dos segmentos ser fácil ou gostável, o que Kusturica realiza não deixa de conter a sua imagem de marca de folia mesmo associada à miséria. É provavelmente a única história na qual o espectador esboçará um sorriso mais que uma vez.

O ácido Spike Lee realiza aquele que foi, para mim, o mais forte de todos os segmentos. “Jesus Children of America” transporta-nos para o mundo cruel da SIDA pelos olhos de uma menina brilhante: Blanca. Filha de um veterano da primeira Guerra do Golfo negro e de uma hispânica (mangífica Rosie Perez), ambos heroinómanos e infectados com SIDA, Blanca irá ser vítima dos gozos dos colegas e da desconfiança dos pais destes. Por várias vezes as lágrimas me correram durante este segmento do filme. Não é difícil sentirmos a dor da pequena Blanca, presa a um destino de preconceito, incompreensão e medo que não escolheu mas ao qual não consegue escapar.

A brasileira Kátia Lund, co-realizadora do aclamado Cidade de Deus” traz-nos “Bilu e João”, passado num Brasil altamente desigual. O seu segmento segue um dia na vida das personagens que dão título à curta, dois irmãos que recolhem diversos artigos de sucata para ganharem o mínimo indispensável à sobrevivência. Há uma esperança e uma alegria de viver tão tipicamente brasileiras que ecoam destas personagens, destes pequenos iguais a tantos mais mas com os quais simpatizamos de imediato. Perto do final a câmara afasta-se e por detrás da favela encontramos os arranha-céus de um Brasil ultra-moderno que coexiste com os bairros da mais extrema pobreza. Tamanha desigualdade não pode deixar de nos fazer pensar…

Ridley Scott e a sobrinha Jordan Scott realizam o quinto segmento, “Jonathan”, que constitui a parte de menos impacto de todo o filme. Passado no Reino Unido, a curta tem como figura central um fotógrafo de zonas de guerra (David Thewlis) que vive atormentado perante o sofrimento daqueles que deu a conhecer ao mundo mas que não ajudou a salvar.
Esta parte afasta-se do registo realista da anteriores mas entrar no domínio do onírico: Jonathan perde-se num bosque onde volta a ser criança e na companhia de dois amigos viaja até um refúgio de crianças feito pelas próprias, meninos perdidos que sobrevivem juntos à guerra.
Apesar da composição mais calma, valorizada pela música de Hans Zimmer, este acaba por ser o segmento que passa mais despercebido.

Stefano Veneruso, realizador italiano de curtas traz-nos a odisseia de “Ciro”, um apaixonado do som e das sombras e delinquente juvenil. Veneruso dá-nos uma espectacular sequência de fuga, mas brinda-nos com um final que é um hino à inocência e ao que de mais puro sobrevive até nos jovens que cometem actos tão condenáveis. Atenção à intervenção da actriz Maria Grazia Cuccinotta, que também produz o filme, que surge como uma empregada que, num ajuntamento de rua, diz uma grande verdade: porquê condenar as crianças quando devíamos condenar aqueles que criam as condições que os forçam a cometer crimes?

O último segmento é realizado por John Woo, um chinês que tem trabalhado muito nos Estados Unidos, mas que regressa aqui à sua China natal para nos contar as histórias paralelas de “Song Song e Little Cat”, uma menina rica e uma menina pobre, unidas pela boneca de porcelana que a primeira deita fora. Muito comovente, este é um retrato a duas faces do que pode entristecer uma criança. Mas também do quanto vale a pena não perder a esperança.

Esta é uma obra que, como diz o poema de Eugénio de Andrade, é “urgente”. Mesmo que o que fique seja uma ideia de redenção, talvez mostrando como, se houvesse bondade no mundo, haveria sempre uma solução para estas crianças, cada um destes segmentos não deixam de nos alertar e chocar perante as condições de vida das crianças por todo o mundo. Um filme indispensável.

Classificação:
posted by Anónimo @ 12:13 da manhã   1 comments
segunda-feira, abril 24, 2006
Pearl Jam em Portugal

Pearl Jam estão de regresso ao nosso país. Seis anos depois de terem actuado na Europa, a banda regressa numa tournée mundial com o objectivo de divulgar o seu novo e oitavo álbum que tem o nome da banda: "Pearl Jam".

Editado três anos depois do seu último álbum, "Riot Act", o primeiro single deste novo trabalho chama-se "World Wide Suicide" e já está a passar em todas as rádios do mundo, encontrando-se há quase dois meses no top5 das tabelas de rádio dos EUA. Para os mais cépticos relativamente ao novo álbum fica o bom prenúncio das críticas de quatro e cinco estrelas nas principais revistas da especialidade: Rolling Stone e Kerrang.

Quanto a Portugal, Pearl Jam vão dar dois concertos em Lisboa no Pavilhão Atlântico, nos dias 4 e 5 de Setembro. Os bilhetes vão ser postos à venda apartir de 29 de Abril e os preços oscilam entre os 28 e os 40 euros. Quanto aos locais de compra, estes podem ser adquiridos nos locais habituais.
posted by P.R @ 6:24 da tarde   1 comments
domingo, abril 23, 2006
Indie Lisboa | Mutual Appreciation


Depois da desilusão que foi Mary, foi com menos entusiasmo e excitação que regressei à mesma sala de cinema para ver Mutual Appreciation. Contudo, se Mary teve algum aspecto positivo foi, exactamente, baixar as minhas expectativas para assim me poder surpreender com Mutual Appreciation.

Mutual Appreciation é, quer na forma, quer no conteúdo, um filme nitidamente independente. Digo isto pois, actualmente, é comum afirmar-se descomplexadamente que determinado filme é independente, como se isso lhe conferisse um nível de intelectualidade superior aos restantes. Não, Mutual Appreciation rompe com todos os convencionalismos comerciais, apresentando-se como uma obra diferente, verosímil e quase amadora. O amadorismo não está, contudo, tanto no conteúdo mas mais na forma onde a montagem do filme é, sem rodeios, má e a fotografia a preto e branco inconsequente e impertinente. Assim, o que torna este filme especial? O conteúdo e os protagonistas.

Escrevendo, realizando, editando e protagonizando, Andrew Bujalski tem aqui o "seu" filme, e vê-se em todos os frames um tremendo amor à arte e uma vontade herculeana de trazer algo novo e, como tal, inovador à indústria cinematográfica. E a verdade é que se este filme não é inovador, pelo menos consegue ser uma excelente réplica do cinema independente americano. Edificado sobre um argumento muito bom, Bujalski coloca naquelas personagens todos os receios e angústias dos twenthy-something, com a qual, obviamente, não pude deixar de me identificar. De facto, é graças à fusão de um argumento físico com a abertura ao improviso dos "actores" que Mutual Appreciation marca a diferença, transparecendo uma verosimilhança que, decerto, não escapará a ninguém. Por outro lado, o facto dos protagonistas serem seus amigos próximos e não terem muita experiência em termos de actuação confere ao filme uma aura que balança entre o amador e o experimental, o que acaba por resultar numa ambiguidade cativante.

No entanto, independentemente do seu amadorismo e sendo-lhe favorável o facto do papel ter sido pensado para si, Justin Rice consegue um desempenho fascinante. Extremamente expressivo, o actor alia uma capacidade cómica com uma contenção dramática deveras impressionante. Apoiado no protagonismo por Rachel Clift, também esta tem uma intrepretação digna de registo, de onde se extrai principalmente a sensualidade do seu olhar e a subtileza dos seus gestos e palavras. O terceiro vértice deste triângulo tão especial é Andrew Bujalski que, infelizmente, não acompanha em termos de qualidade os restantes actores. Com uma incapacidade de expressão acentuada, Bujalski "actor" revela falta de química com os restantes protagonistas e parece, invariavelmente, sempre a mais nas cenas onde entra.

Concluindo, Mutual Appreciation é um bom filme. Não sendo capaz de deslumbrar, a verdade é que o seu argumento e as situações criadas conseguem tocar o telespectador pela naturalidade que transparecem. Estando no melhor e no pior do filme, Andrew Bujalski torna-se assim num nome a seguir atentamente, principalmente pelas qualidades que revela enquanto argumentista.

Classificação:
posted by P.R @ 12:37 da tarde   2 comments
sábado, abril 22, 2006
Indie Lisboa | Me and You and Everyone We Know

Perdi-o na abertura oficial do Indie Lisboa 2006 mas consegui vê-lo hoje na repetição no cinema Londres. A primeira longa-metragem de Miranda July que tem encantado meio mundo, tendo arrecadado prémios em diversos festivais teve ante-estreia no nosso país na 3ª edição do Festival Internacional de Cinema Independente.

Miranda July não só realiza como também escreve e interpreta esta incursão puramente indie numa comédia agri-doce sobre uma mulher, um homem e todos os que o rodeiam.
July é Christine, uma aspirante a artista que trabalha como taxista de idosos. Ao acompanhar um cliente a uma sapataria conhece Richard (John Hawkes), um empregado recém-divorciado com quem estabelece uma estranha conexão. O filme gira mais em torno da miríade de personagens que gravitam em torno dos protagonistas e dos momentos solitários destes últimos do que propriamente na exploração de um conhecimento mútuo de típica comédia romântica.

Mas neste Me and You and Everyone We Know há romantismo, que sendo nitidamente lamechas não o é de forma vulgar. A citação de Roger Ebert que acompanha o poster do filme não poderia estar mais certa: “Delicate, tender, poetic and yet so daring. It’s about the mysteries of sex and the enchantments of the heart”. Delicadeza, ternura e uma certa poesia são palavras ideais para descrever esta admirável primeira obra. Mas há também uma boa dose de ousadia. A descoberta sexual do filho mais velho de Richard e das duas amigas, bem como o primeiro contacto com esse mundo tão humano mas tão rotulado como adulto pelo filho mais novo do protagonista são feitas de forma realista e sem ceder a moralismos. Mas mais do que chocar, o filme toca.

A solidão está sempre presente mas nunca é excessivamente exposta, nunca incomoda. Ela está mais do que todos em Christine, cuja arte é a expressão do ‘everlasting love’ por que anseia na própria vida, mas bem notória também em Richard, que quer viver mas acaba por apenas aguentar. Está presente nos filhos de Richard deixados quase entregues a si mesmos, na sua mãe que precisa de usar uma camisola para se lembrar que é querida, está nas jovens raparigas que querem experimentar os mistérios do sexo sem terem de viver com a culpa de um arrependimento, está no idoso que Christine guia, condenado a perder o amor que esperou uma vida por conhecer. Está também na jovem colega do filho mais velho, que minuciosamente reúne um enxoval, construindo desde a infância uma salvaguarda à solidão, está no colega de Richard, que entre fantasias nabokovkianas anseia pela calma de um sono caseiro e na aparentemente pretensiosa directora do museu de arte contemporânea que deambula em chats buscando uma forma de satisfação sexual.

Mas a solidão não é mostrada para magoar ou condenar e não torna qualquer personagem digna de pena. É antes mostrada na sua dimensão inevitável de humanidade, num tom que conquanto ameace, nunca cai na apologia do desencanto mas antes se agarra a uma esperança algo pueril.

Filmado em vídeo digital, Me and You and Everyone We Know toca ao coração sem tirar os pés da terra. A expressão cada vez mais cliché “pequena pérola” é-lhe bastante adequada! Trata-se de uma obra livre de preconceitos, medos e presunção, assumindo os seus trunfos e fraquezas de uma forma admirável. Não é uma história de falhados nem de estrelas mas de pessoas comuns.Magnificamente interpretado, quer pelos actores adultos quer pelos vários actores jovens, o filme conta ainda com uma bonita banda sonora.

Uma proposta que vale bem a pena e que não podia ser uma melhor maneira de começar este festival. Para os que não tiveram oportunidade de o ver no Indie Lisboa não desesperem! O filme tem estreia nacional agendada para 4 de Maio (apesar de as estreias neste país serem sempre um tiro no escuro…).

Classificação:
posted by Anónimo @ 6:54 da tarde   1 comments
Indie Lisboa | Mary


Até que ponto existe um Deus dentro de nós? Até que ponto ele é dono de uma verdade absoluta? Há quem diga que todos nós temos uma verdade, a nossa, aquela que para nós faz sentido e dá sentido às coisas e ao mundo… De qualquer forma, é sempre interessante quando um filme nos faz pensar nas necessidades humanas, conscientes ou não, de seguir um Deus e de ser encaminhado pelo mesmo.

Mary não era, desde logo, um filme que me cativasse muito. No entanto, conseguiu extrair um misto de ideologias e de opiniões que convergem para um só elemento, o amor, tornando algo apetecível beber um pouco daquele cálice, se assim poderei dizer. De facto, este filme agradou-me especialmente por mostrar um pouco de todas as posições que qualquer pessoa pode tomar quando toca à religião. Se ao mesmo tempo os teólogos e especialistas religiosos acentuavam a importância do Senhor e da sua simbologia, os actores do filme, nas suas diferentes personagens, deixavam passar uma mensagem distinta.

O elo de ligação do filme passa pela conquista da fé, daquilo que preenche o ser humano, que é simultaneamente o seu refúgio e a sua força. Com efeito, se nos sentimos independentes e vencedores por atribuirmos a nós próprios o nosso caminho, por vezes a consciência é capaz de nos trair, de nos fazer medir o bem e o mal, pesando-os rigorosamente na balança.

Além deste pensamento, Juliette Binoche é também uma das personagens mais simbólicas deste filme. Vestindo a pele de Marie, uma actriz famosa que acaba por se afundar nos escritos religiosos de Maria Madalena (dando assim título ao filme), representa a importância de encontrarmos dentro de nós a felicidade e que nos dá paz interior. Marie alerta-nos para a altura da vida em que o que temos deixa de estar ‘no nosso coração’, para dar espaço a um outro mundo, a uma paz. No fundo, a uma verdade.

Em suma, acreditando ou não nos ensinamentos religiosos que nos perseguem diariamente (quer queiramos quer não) este filme diz-nos para buscarmos a nossa verdade, absoluta ou não. Cada vez parece ser mais difícil, mas o que acontece é que cada vez mais queremos dar um sentido ao que está à nossa volta, “não àquilo que vemos com os olhos, mas ao que vemos com o coração”.


Classificação:
posted by Ana Silva @ 4:34 da tarde   5 comments
sexta-feira, abril 21, 2006
Indie Lisboa | Dia 1

Começou ontem o Indie Lisboa, aquele que já se começa a afirmar como o mais importante (e interessante) festival de cinema da capital. A julgar pela sessão a que fui assitir ontem, que nem sequer era a de abertura, o festival começou da melhor forma, esgotado.

Todas as atenções estavam dirigidas para Me And You And Everyone We Know, que deu início à edição de este ano, mas foi Mary que acabou por ser a nossa escolha neste primeiro dia. O mais recente de Abel Ferrara é, na minha opinião uma grande obra, mas há vozes que se levantam em contrário, o que me faz afirmar com certezas de que, pelo menos o filme não é consensual. A minha crítica ao filme pode ser vista aqui. Brevemente haverá uma crítica também neste blog, assim como de outros filmes em cartaz no Indie.

Em relação ao festival em si, tenho algumas coisas a apontar. Primeiro, acho que deviam apostar, nas próximas edições, numa abordagem mais à festival de cinema. A sensação que tive foi de que estava apenas a ver uma sessão de cinema como tantas outras no King. Há pouca coisa que nos relembre de que aquilo mais do que só mais uma sessão de cinema. O que me leva à segunda questão. A barraca do merchandise é uma boa aposta, mas faz mais lembrar um festival de verão do que um festival de cinema. Especialmente porque é a única coisa relacionada com o festival, para além dos filmes como é óbvio, a que temos acesso. Falta-lhe um pouco de glamour e exclusividade.

De resto esperam-nos mais nove dias de muito cinema. Hoje arranca o programa em competição, do qual vamos acompanhar às 21:45h no cinema King, Mutual Appreciation, de Andrew Bujalski. Não estaremos em tantas sessões como gostariamos mas dentro do possível vamos fazer uma cobertura do festival com os meios que temos.

Resta-me só recomendar que vão também assistir a algumas sessões para podermos trocar ideias e estejam atentos porque as novidades podem surgir a qualquer momento.

Mais informações sobre o festival, www.indielisboa.com
posted by not_alone @ 5:59 da tarde   3 comments
quinta-feira, abril 20, 2006
O derradeiro cd para fãs de António Variações

Boas notícias para fãs do grande António Variações (que, depois do fenómeno Humanos, devem ser ainda mais). Depois de consecutivamente ter sido alterada a data de lançamento, eis que chega a confirmação: A História de António Variações - Entre Braga e Nova Iorque terá edição dia 28 de Abril.

Atenção, este não é um best of, apesar de ter presentes algumas das suas mais incontornáveis canções. É a compilação de um trabalho de uma vida, que conta com maquetes nunca editadas e algumas músicas inéditas. Posso garantir que, depois do brilhante trabalho de Camané, vamos poder ouvir Variações cantar a Maria Albertina. Mas confiram por vocês mesmos o alinhamento do disco:

CD 1

01. 'Toma O Comprimido' - António Variações 4:19
02. 'Apresentação no Rock Rendez-Vous (Intro)' - António Variações 0:04
03. 'Estou Além' - António Variações 4:59
04. 'Povo Que Lavas No Rio (Maquete)' - António Variações 0:29
05. 'Povo Que Lavas No Rio' - António Variações 6:02
06. '...O Corpo É Que Paga (Maquete)' - António Variações 0:18
07. '...O Corpo É Que Paga' - António Variações 3:05
08. 'Visões-Ficções (Nostradamus) (Maquete)' - António Variações 0:16
09. 'Visões-Ficções (Nostradamus)' - António Variações 5:39
10. 'Quando Fala Um Português...(Maquete)' - António Variações 0:2
11. 'Quando Fala Um Português...' - António Variações 4:42
12. 'Sempre Ausente (Maquete)' - António Variações 0:21
13. 'Sempre Ausente' - António Variações 5:42
14. 'Linha-Vida (Maquete)' - António Variações 0:10
15. 'Linha-Vida' - António Variações 3:54
16. 'É P'ra Amanhã ... (maquete)' - António Variações 0:46
17. 'É P'ra Amanhã...' - António Variações 4:47
18. 'Onda-Morna' - António Variações 5:11
19. 'Anjinho Da Guarda' - António Variações 4:49
20. 'Voz-Amália-De-Nós (Maquete)' - António Variações 0:26
21. 'Voz-Amália-De-Nós' - António Variações 4:19
22. 'Deolinda De Jesus (Maquete)' - António Variações 3:25
23. 'Anjinho Da Guarda (Live)' - António Variações 4:29

CD 2

01. 'Perdi A Memória (Maquete)' - António Variações 0:22
02. 'Perdi A Memória' - António Variações 4:12
03. 'Canção De Engate (Maquete)' - António Variações 0:24
04. 'Canção De Engate' - António Variações 4:13
05. 'Canção (Maquete)' - António Variações 0:18
06. 'Canção' - António VAriações 3:56
07. 'Dar E Receber (Maquete)' - António Variações 0:13
08. 'Dar E Receber' - António Variações 4:11
09. 'Quem Feio Ama... (Maquete)' - António Variações 0:25
10. 'Quem Feio Ama...' - António Variações 5:41
11. '...Que Pena Seres Vigarista (Maquete)' - António Variações 0:41
12. '...Que Pena Seres Vigarista' - António Variações 4:49
13. 'Olhei P'ra Trás (Maquete)' - António Variações 0:35
14. 'Olhei P'Ra Trás' - António Variações 4:36
15. 'Erva Daninha Alastrar (Intro)' - António Variações 0:04
16. 'Erva Daninha Alastrar' - António Variações 3:46
17. 'Deolinda De Jesus' - António Variações 4:21
18. 'Minha Cara Sem Fronteiras (Maquete)' - António Variações 0:16
19. 'Minha Cara Sem Fronteiras' - António Variações 4:36
20. 'Não Me Consumas' - António Variações 5:06
21. 'Muda De Vida (Maquete)' - António Variações 2:33
22. 'Maria Albertina (Maquete)' - António Variações 1:49
23. 'Quero é Viver (Maquete)' - António Variações 2:40


In Cotonete
posted by not_alone @ 11:29 da manhã   1 comments
quarta-feira, abril 19, 2006
Para quando?


Perdoem-me as palavras de revolta, mas as distribuidoras nacionais são um completo atentado à inteligência e bom-gosto de todos aqueles que gostam e apreciam cinema. Manderlay, o segundo capítulo da triologia de Lars Von Trier, estreado há quase um ano no Festival de Cannes já estreou em quase toda a Europa e até já esteve em exibição nos Estados Unidos (com Dogville, o filme estreou na terra do tio Sam um ano depois de estrear na Europa) mas Portugal aparece ser a excepção. Estando a sua estreia prevista para Novembro do ano passado, esta foi adiada para Dezembro mas o "milagre" não se verificou e agora o filme nem sequer está previsto estrear. A vergonha acentua-se quando há semanas em que estreiam oito (!!) filmes, muitos deles sem um pingo de interesse. Atenção, que não sou contra os blockbusters e as comédias românticas inconsequentes, pois estes são os géneros que chamam mais pessoas às salas do cinema. Agora, o que se exigiria é que isso fosse contrabalançado pelo dito de cinema de autor. Reconheço que a minha situação não é das piores, pois vivendo em Lisboa tenho maior facilidades no acesso à certos filmes, mas de facto o panorama actual neste âmbito é lamentável. Esta situação leva-nos quase irremediavelmente a outro ponto que é a pirataria. De facto, se todos os interesses e gostos fossem tidos em conta de certeza que não teríamos que sacar os filmes para os pudermos ver. Convenhamos, estamos a falar de cultura, e se querem proteger os direitos dos autores (o que é legítimo) respeitem também os direitos dos espectadores que apenas pedem que sejam respeitados.

Mais uma vez desculpem o desabafo, mas acredito que já todos sentiram o mesmo.
posted by P.R @ 11:26 da manhã   2 comments
terça-feira, abril 18, 2006
Video da Semana | Fiona Apple | O' Sailor


A fabulosa Fiona Apple e o seu novo video extraído do último álbum, Extraordinary Machine.
posted by not_alone @ 4:30 da tarde   0 comments
Sugestão musical

Reprise! When jazz meets pop

Uma compilação francesa que descobri há pouco tempo na FNAC, contém uma série de covers de músicas incontornáveis do universo pop interpretadas por artistas da área do jazz.
Oportunidade para apreciar outras melodias e vozes em temas tão célebres como Like a Virgin de Madonna, All Apologies dos Nirvana ou Life on Mars de David Bowie.
É díficil escolher as versões melhor conseguidas, uma vez que todo o disco apresenta uma qualidade bastante elevada, mas pessoalmente destacaria talvez The Wind Cries Mary, original de Jimi Hendrix na voz de Jamie Cullum, She’s a Lady, celebrizada por Tom Jones e aqui na voz de Patricia Barber e Exit Music (For A Film) dos Radiohead tocada ao piano por Brad Meldhau.
Um projecto interessante a descobrir por amantes do jazz, da pop e de música em geral.
posted by Anónimo @ 11:13 da manhã   1 comments
sexta-feira, abril 14, 2006
Casanova


Depois de nos brindar com um desempenho único e inesquecível em “O Segredo de Brokeback Mountain”, julgo que será bastante complicado deixar-me tocar com a mesma intensidade por Heath Ledger. Ainda que o seu mais recente filme apele aos corações e ao cavalheirismo de outras épocas, o actor marca a diferença mas não com a mesma determinação.

Casanova é um galã mulherengo de Veneza, famoso por deleitar todas as mulheres da cidade e por satisfazer os seus desejos mais impuros e infames. No entanto, para quem acredita no verdadeiro amor e defende que haverá sempre alguém que nos arrebate verdadeiramente e nos faça amar com profundidade e fidelidade, Casanova é um bom filme.

Casanova pode ser considerado um filme algo superficial, na minha opinião, uma boa escolha para desanuviar dos filmes ditos ‘intelectuais’ ou ‘moralistas’, que não procura ter grandes ambições cinematográficas. Os diálogos tentam somente deixar em nós uma doçura, um requinte que é visível nos gestos, nos olhares, nos cenários. De facto, o cenário que acompanha o filme do primeiro ao último minuto transmite uma espécie de aura positiva. Incute não só um romantismo refinado, mas também a teatralização típica de Veneza: os passeios de gôndola, as ruas íngremes, as máscaras que escondem as faces.

Assim, a sensualidade do protagonista é derramada ao longo do filme, não necessariamente através do seu lado físico, mas das suas peripécias e desafios, dos seus esquemas, da sua lábia de sedutor. Os corpos femininos, junto ao seu, exalam sentimentos ardentes e um desejo desmedido por entre os numerosos tecidos das saias. Ali, todos os detalhes são cuidados, realçando um guarda-roupa e uma caracterização de grande qualidade e pormenor.

Por fim, não posso atribuir ao elenco uma avaliação implacável. Heath Ledger ergue de forma muito bem conseguida a barreira necessária com as outras personagens da sua carreira, Sienna Miller tem um desempenho bastante aceitável, e também Jeremy Irons que, enquanto Bispo Pucci, vê a sua rigidez religiosa um pouco ridicularizada, mas sem nunca perder a sua marca de grande actor.



Classificação:
posted by Ana Silva @ 10:13 da tarde   0 comments
quinta-feira, abril 13, 2006
Frida Kahlo no CCB

De 24 de Fevereiro a 21 de Maio deste ano está em exibição no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, uma exposição única sobre a vida e obra de Frida Kahlo (1907-1954), um dos nomes cimeiros da arte mundial do século XX.

A exposição reúne algumas das obras mais célebres da pintora, como “A coluna partida”, “O autocarro”, “Uns quantos golpes”, “Auto-retrato com macaco” ou “Hospital Henry Ford”, estando também em exibição uma série de fotografias retratando a vida de Frida desde a infância até à sua morte, destacando-se algumas como o marido, o também artista Diego Rivera, e com Léon Trotsky, aquando da sua estada no México (durante a qual for assassinado). Acrescente-se ainda o diário que Kahlo escreveu desde os 37 anos e um documentário de 51 minutos sobre a pintora. A exposição mostra ainda motivos característicos da cultura mexicana como um altar de mortos e trajes típicos, num estilo que Kahlo cultivou.

Frida Kahlo, que recentemente foi retratada em filme por Julie Taymor (com Salma Hayek no papel da artista), é uma mulher em que a sua vida e a sua arte são indissociáveis. Aproximando-se por vezes do simbolismo, nas suas pinturas encontramos expressões magníficas do seu enorme sofrimento (vítima de um grave acidente na adolescência, Frida padeceu durante toda a vida de uma série de problemas de saúde) mas de onde emerge uma admirável força e uma inigualável visão da vida. Umas vezes encontramos um certo humor negro (“Unos cuantos piquetitos”), outras uma camuflada exposição do desespero (“A máscara”), mas sempre um quê de genialidade profundamente humana.

Apesar de não incluir outras obras magníficas – como os meus favoritos pessoais “Auto-retrato com cabelo cortado”, “O sonho” ou “O suicídio de Dorothy Hale" – esta é sem dúvida uma exposição de enorme qualidade, a não perder!

Para mais informações clicar aqui.
posted by Anónimo @ 11:25 da tarde   0 comments
quarta-feira, abril 12, 2006
West Side Story


West Side Story é um marco do cinema de Hollywood. Vencedor de onze Óscars da Academia, incluindo melhor filme e melhor realizador, este musical é um dos mais conhecidos de sempre e é tido como um dos melhores. Sendo, para a altura, uma versão moderna do drama Romeu e Julieta, o filme é quase na sua totalidade dançado e cantado e conquistou uma verdadeira legião de fãs em todo o mundo. Mais de quarenta anos depois, é com alguma incredulidade que vejo o quão sobrevalorizado é este filme.

O conceito que sustenta todo o filme, o facto de ser uma versão moderna da mais conhecida tragédia de Shakespeare, até poderia ter dado bons frutos. No entanto, o seu desenvolvimento origina uma obra azeda e inconsequente que de obra-prima tem muito, muito pouco. As coreografias são de facto muito boas mas, na minha opinião, elas devem servir de suporte para o filme, não o contrário. Os primeiros quinze minutos são belos na forma, na forma sincronizada como todos os actores dançam, mas vazio no seu conteúdo. A ideia está lá, mostrar os dois grupos rivais do bairro, mas é, na minha opinião, muito mal conseguida. Isto é, West Side Story é um filme musical, é certo, mas não um espectáculo de bailado pois, para isso, veríamos um espectáculo do género.

Por outro lado, os actores principais, principalmente Richard Beymer, são vazios em expressividade e não conseguem estar à altura das próprias pretensões do filme (neste ponto, estou de acordo com a Academia porque em 12 nomeações que o filme tem, os actores principais foram excluídos). Sendo muito bem suportados pelos restantes actores, em especial Rita Moreno (que recebeu o respectivo Óscar), a verdade é que a sua função resume-se a cantar e dançar, e eles fazem-no sem arrebatar. A acrescentar a isto, os cenários do filme são paupérrimos. De facto, aquando da visualização do filme, tudo me parecia demasiado teatralizado, a começar, lá está, pelos cenários que me pareceram, obviamente, serem uns autênticos palcos, o que revela um descuido enorme em termos de reconstituição da época em questão.

West Side Story foi assim uma verdadeira decepção, principalmente porque o género musical é um dos meus preferidos. Exceptuando a excelente banda-sonora, a verdade é que tudo o resto é muito mau. Para aqueles que dizem que Crash foi o pior filme a vencer um Óscar, aconselho vivamente o visionamento deste filme, pois certamente ficarão mais conformados.

Classificação:
posted by P.R @ 8:26 da tarde   2 comments
segunda-feira, abril 10, 2006
Companhia Nacional de Bailado


Não há nada como um bom convite de vez em quando. E que tal um bailado numa tarde de Domingo? De facto, é preciso saber apreciar os diferentes tipos de performance artística, e a sensação é especialmente saborosa e intensa quando não existem barreiras entre o público e o artista, quando os corpos se entrelaçam diante dos nossos olhos.

A Companhia Nacional de Bailado apresentou na última semana um espectáculo lindíssimo no Teatro Camões, ao som de compositores do mais alto nível, “Dançar Kylian, Duato e Bigonzetti”. Cada um merecedor de uma atenção e sensibilidade especiais, a Companhia apresenta-se de forma magnífica, com uma composição de excelência, não só no que diz respeito aos bailarinos mas também às misturas musicais.

Aconselho a quem precisa deixar-se ir e a quem gosta de apreciar a harmonia ou a convulsão, somente traduzida na expressão dos rostos e no desenho dos corpos, que raramente ganham vida sozinhos.
posted by Ana Silva @ 11:54 da manhã   0 comments
Sugestão de aluguer

Realizado por Andrew Niccol (que realizara apenas os interessantes Gattaca e S1m0ne), Lord of War (título português Senhor da Guerra), estreado no cinema o ano passado, é uma interessante exposição sobre o tráfico mundial de armas.
Tomando como paradigma um traficante americano de origem ucraniana (interpretado por Nicholas Cage), é um filme que evita a dose de sentimentalismo de outros filmes-alerta como o oscarizado Crash-Colisão e faz um retrato que entre a frieza e a tentativa de realismo funcionam numa convincente mostra de um processo extremamente actual.
Um filme que merece um visionamento também pela qualidade dos actores que nele participam (como Ethan Hawke ou Ian Holm) e pelo carácter infelizmente presente da temática que aborda.
posted by Anónimo @ 10:41 da manhã   0 comments
sexta-feira, abril 07, 2006
Video da Semana | Ours | Sometimes


A primeira vez que ouvi esta música pensei: Ora aqui está mais uma grande música do Jeff Buckley. Mas depois algo não me soava bem. Não que a música fosse má, mas a sonoridade nada tinha que ver com a sonoridade de Jeff Buckley. Fiz uma investigação e descobri que era uma banda chamada Ours. O vocalista é que tem uma voz bastante parecida com a de Jeff Buckley. Assustadoramente parecida. Fiquei ainda mais boquiaberto quando vi este video e notei as semelhanças físicas entre os dois. Portanto isto seria o Jeff Buckley com uma banda de Rock alternativo e a usar calças de cabedal. Ele há coisas do arco da velha... Vejam o clip, ouçam o álbum (distorted lullabies) e não se vão arrepender.

posted by not_alone @ 7:02 da tarde   0 comments
Sugestões

















Sábado, 2:, 23:00


















Domingo, SIC, 01:00


(ok eu sei que os horários não são muito apetecíveis para quem trabalha ou estuda no dia seguinte (principalmente o do Lost in Translation), mas eles merecem o sacrifício)
posted by P.R @ 2:34 da tarde   0 comments
 

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