quinta-feira, novembro 30, 2006
The Queen


A morte da Princesa Diana foi um acontecimento que, sem dúvida, chocou não só os britânicos como a população mundial em geral. A intitulada “Princesa do Povo” era uma figura que cativava pela simpatia, simplicidade e pela sua boa-vontade para com os mais desfavorecidos. A sua postura mais próxima do povo contrastava, porém, com a rigidez, distância e até frieza da monarquia britânica que, num comportamento quase letárgico, se alheava das mudanças dos seus súbditos. É exactamente a morte trágica de Diana e à reacção da monarquia, em especial da rainha, e do recém-eleito Tony Blair que Frears explora neste “The Queen” construindo um dos melhores filmes de 2006.

The Queen é, como o próprio título torna óbvio, um filme sobre a Rainha Isabel II (num desempenho perfeito de Helen Mirren). Mas o filme não é biográfico, uma vez que aborda apenas alguns dias, difíceis por sinal, da vida da rainha e da monarquia. Sendo a monarquia, nos dias de hoje uma extensão da própria Rainha, tal o seu poder, foi bastante interessante seguir as suas dúvidas e anseios relativamente à postura a adoptar face ao falecimento de Diana. É um filme sobre a auto-descoberta da rainha, da monarquia e da sua própria identidade. Um procurar, nem sempre desejado, do rejuvenescimento de uma instituição que, já com tantos anos e tantas tradições, sente que tem de mudar para se adequar aos tempos e às pessoas de hoje.

Esta é a grande virtude, na minha opinião, de Stepanh Frears, o não entrar em facilitismos nem ser nem duro nem benevolente para com a Rainha. Sem cair em estereótipos que, mais uma vez afirmo seria extremamente fácil, é possível olhar e ver uma pessoa com dúvidas, confrontada com o evoluir do pensamento e com a excessiva solidez e robustez de uma instituição, a monarquia. Esta já não compreende os seus súbditos, tem dificuldade em aceitar que tal como o mundo, também as pessoas mudam e se apegam a uma figura fértil em escândalos, que virou as costas à monarquia mas que conquistou algo que a própria Rainha começa perder: o seu amor e admiração.

The Queen é assim um grande filme. Misturando ficção com imagens reais das homenagens do povo britânico à Princesa Diana, o filme tem grandes momentos dramáticos, polvilhados com a subtileza do humor britânico e com o enaltecer da humanidade que todas personagens devem ter, mesmo que seja a Rainha de Inglaterra.


posted by P.R @ 12:59 da tarde   2 comments
segunda-feira, novembro 27, 2006
Casino Royale


Confesso desde já que nunca fui grande fã da saga de James Bond, e por isso mesmo toda a controvérsia que envolveu a escolha de Daniel Craig para o papel passou-me completamente ao lado. Apenas me custava um pouco a entender porque é que tão boa gente tinha tantas reticências em relação a Craig, uma vez que sempre me pareceu um actor com talento e carisma, como o comprovam títulos tão distintos como Road to Perdition, Layer Cake ou Munique. Seja como for, não é certamente por ele que depois de ter visto Casino Royale me mantenho perfeitamente indiferente a toda a série.

Talvez o problema de James Bond seja precisamente o de ser tão... James Bond. Com isto, quero dizer apenas que ao fim de 21 capítulos, e mesmo depois das suspostas renovações e reinvenções da personagem que se tentaram aquando da criação do novo filme, já nada surpreende minimamente nas missões de 007, tão excessivamente presas a ideias preconcebidas que se têm vindo a arrastar nos ecrãs desde 1962. Não pode haver um James Bond sem Bond Girls traiçoeiras, sem fatos catitas, sem Aston Martins ou BMW, sem “Bond... James Bond”. Claro que se esses elementos faltassem, não estaríamos certamente a falar de um James Bond, mas no que me diz respeito, isso até poderia ser bom.

Baseado directamente num livro de Ian Fleming, Casino Royale propõe um olhar virgem sobre a personagem(mas não, pelo que parece, na forma como lida com as suas Bond Girls), ou seja, descobrimos como James Bond se tornou num 007. A trama envolve-o com Le Chiffre (Mads Mikkelsen), um apostador da bolsa que, após perder uma avultada soma para os seus clientes fruto de planos maquiavélicos que deram para o torto (graças à intervenção do nosso herói), organiza um torneio de poker que envolve milhões de dólares e que tem de vencer a todo o custo, mas claro que encontra em Bond um adversário de peso. Para o assistir, Bond conta com a preciosa ajuda de Vesper Lynd (Eva Green), isto depois de ter passado uma noite sexy com Solange (Catalina Murino)...

Enfim, o resultado final é mais do mesmo e nem esse esforço de mudança é suficiente para converter os descrentes, chegando inclusivamente a cair a espaços em auto-referências completamente desenquadradas do contexto – ainda que algumas delas funcionem, humorísticamente falando. Aliás, será precisamente aí que residem os momentos mais inspirados do filme, mantendo-se o lado irónico e mordaz da personagem perfeitamente intacto. Pena é que isso não chegue para se passarem bem as duas horas e vinte minutos de filme e, se exceptuarmos um tenso jogo de poker, pouco mais de relevante há a destacar nesta nova aventura. Nem as (longas) cenas de acção atingem grandes níveis de espectacularidade, tornando-se mesmo monótonas (!) a espaços, talvez resultado de uma realização algo desensabida por parte de Martin Campbell, nem a trama se chega a revelar suficientemente interessante, nem mesmo o vilão composto por Mikkelsen é suficientemente ameaçador (e quem viu Carne Fresca Procura-se saberá certamente o quão sinistro o actor dinamarquês consegue ser, e em Casino Royale só chega lá perto quando tem uma corda na mão) para nos tirar o sono, nem Eva Green é tão bem aproveitada como deveria. Seja como for, é muito provável que agrade aos fãs da série, embora duvide que atraia muitos mais, e sinceramente a mim é-me completamente indiferente. Como em tudo, isto é uma questão de gosto, e pessoalmente inclino-me mais para a saga de Missão: Impossível, por exemplo, e para referir uma estreia do presente ano. No final, e penso que esta opinião é quase generalizada, o melhor mesmo acaba por ser Craig... Daniel Craig.

posted by Juom @ 8:29 da tarde   5 comments
sábado, novembro 25, 2006
Vídeo da Semana | Queen | I'm Going Slightly Mad


Para esta semana tinha pensado em algo completamente diferente, que terá de ficar adiado. Isto porque fez ontem (dia 24 de Novembro) 15 anos desde a morte de Freddie Mercury, o mítico vocalista dos Queen, e não podia deixar passar a oportunidade de homenagear um dos músicos que marcou uma fase da minha vida. Esta pode não ser a melhor das canções dos Queen, mas a mistura entre o humor absurdo, a loucura e um certo desespero já latente na letra servem como mais um belo exemplar do talento da banda, cujo nome ficará para sempre ligado à história da música, e a voz de Freddie Mercury como um dos seus tesouros mais preciosos.
posted by Juom @ 12:17 da tarde   0 comments
sexta-feira, novembro 24, 2006
Ed Harcourt | The Beautiful Lie


Ed Harcourt foi uma das melhores surpresas dos últimos anos. Um talentoso singer/songwriter que nos embala com as suas melodias doces. Rasga-se um sorriso sempre que ouço uma música de Here be Monsters, o seu brilhante primeiro álbum. Por vezes é um sorriso melancólico, um sorriso de saudade. Um sorriso de quem se lembra do lado bom que os momentos maus também têm.

The Beautiful Lie é o seu mais recente disco. Este é o dom de Ed Harcourt, torna as coisas más em coisas belas. Desde a primeira música, Whirlwind In D Minor, percebemos que esta será uma experiência diferente. Não só diferente dos álbuns anteriores, mas distinta de tudo o resto que já ouvimos. Uma batida de alegria contagiante serve de fundo à primeira frase: “The whole town nearly died”. Nós, como se nada fosse, continuamos a cantarolar, a bater o pé. Dentro da música e fora do mundo.

Como um doente bipolar, The Beautiful Lie, oscila entre os estado de euforia e depressão. Mais do que isso, os dois estados confundem-se, fundem-se num só de tal forma que deixamos de perceber as suas fronteiras. Ed Harcourt é um doente controlado. Tem a capacidade de escrita de um adulto, preso na mente de um adolescente. Os temas são, óbviamente, pessoais e, simultaneamente, universais. O amor, a falta dele, as suas variantes. O mundo como um lugar estranho, distante.

Esta não é uma chamada de atenção. Mas é uma paragem obrigatória.



posted by not_alone @ 4:38 da tarde   0 comments
terça-feira, novembro 21, 2006
Muse vs Placebo
Muse, por not_alone

Os Muse percorreram um longo e tortuoso caminho para chegar ao nível de reconhecimento que têm hoje em dia. No ínicio da sua carreira carregavam o pesado fardo de serem, repetitivamente, comparados aos Radiohead. As semelhanças eram evidentes, especialmente entre os dois vocalistas, mas os Muse tinham algo mais a mostrar do que cópias baratas de The Bends.

Ainda à procura de um estilo próprio em Showbiz, o primeiro álbum, a banda mostrava, ainda assim, bastante potencial. Aliás, Sunburn, a primeira música, já revelava o grande apoio dos Muse no piano e nas melodias que, tímidamente, se vão transformando em gritos de raiva. Assim como Muscle Museum que, apesar de soar totalmente a Radiohead, continua a ser uma música portentosa.

Irreverentes e fiéis a um estilo pop-rock alternativo, as músicas dos Muse são de uma intensidade cósmica. Quando os Radiohead decidiram tomar um rumo diferente, mais próprio, menos imediato, os Muse tomaram o lugar deles. Mestres a criar hinos de uma geração, a banda consegue a proeza de fazer música alternativa para as massas. Com Origin of Symmetry (2º álbum) conseguem, pela primeira vez, um público próprio, não fosse este um dos mais interessantes álbuns do novo milénio.

Daí em diante, os Muse não pararam de surpreender. Se Origin of Symmetry foi uma viagem em espiral por um ambiente futurístico e de novidade digital decadente, já Absolution é um disco mais cru, mais agressivo, mas não menos reivindicativo. Pós 11 de Setembro os Muse decidem tomar uma posição política e usam a subjectividade da música como instrumento maior. Time is Running Out é um desses veículos, que roça a perfeição. É o single mais eficaz, uma viciante música de rock, um manifesto Anti-bush, apoiado num vídeo que evoca Dr. Strangelove, de Stanley Kubrick.

Por esta altura já tinha tido o previlégio de os ver em duas situações diferentes (Na Aula Magna e no Super Bock Super Rock) e de presenciar a sua força em palco. Não só se confirma o talento da banda, como a sua boa disposição e a magnificência da voz de Matthew Bellamy.

Este ano, brindaram-nos com mais uma pérola da música. Black Holes and Revelations. Afirmam que não têm medo de mudar e de exprimentar coisas diferentes. Mais perto de uma vertente dance, os Muse tornam o disco-sound em disco-rock e Supermassive Black Hole, qual I Will Survive, teima em não nos largar a cabeça.

Não lhes falta talento e imaginação, cá estamos para ver como nos vão surpreender a seguir.


Placebo, por H.

Conheço Placebo de nome desde que se começaram a fazer notar por cá mas só muito tarde dei à sua música a atenção devida. Muito depois, diga-se, de ouvir Muse.
Os primeiros álbuns dos Placebo foram sérios casos de reconhecimento, um fenómeno tanto mais surpreendente quanto a sua postura provocadora. A banda conseguiu criar um estilo próprio tanto em termos musicais como de apresentação que a torna ainda hoje inconfundível.

O facto de a sua música ser conhecida não a torna menos difícil. Letras onde a tristeza é lançada em bofetadas e a revolta expelida sem concessões, nas canções lidam com confusões psíquicas e corporais, com traumas e quedas, numa exposição amarga da identidade contemporânea. Vidas alienadas, sem sentido, divididas entre vícios e prazeres. “And the sex and the drugs and the complications”, como versam em Meds.

A aparência andrógina cultivada pelo vocalista Brian Molko e a indefinição sexual que transporta para a música da banda, deram aos Placebo uma aura ainda mais excêntrica, embora só alguém de vistas curtas os resuma a esse exibicionismo.
Na verdade, o que os Placebo tocam é a confusão da juventude do mundo moderno, as suas tentações e fraquezas, as suas arrogâncias e fragilidades, centradas no drama existencial do indivíduo.
Enquanto os Muse se concentram mais em questões de coração, os Placebo elaboram subtilmente um manifesto do ser engolido pelo meio, mutilado pela vida, rejeitado pelos demais, sofrido mas sempre dotado de uma auto-consciência acutilante.

O seu trabalho foi reconhecido não só pela crítica e pelo público como pelos seus pares, como evidenciam duetos com David Bowie, Michael Stipe (dos R.E.M.), entre outros. Refira-se ainda a sua participação no filme Velvet Goldmine, de Todd Haynes, que se ambientava no universo do glam rock dos 70s.
Essa ligação inegável entre os Placebo e o glam rock insere a sua música numa linha evolutiva, que conquanto homenageie as raízes, incorpora os seus contributos no rock alternativo actual. Alternativo pois embora a popularidade do trio seja imensa, o que representam é tudo menos “do sistema”. O que cantam e a postura que assumem, é a de um forte “fuck you” social.

Elogio do marginal, solidão maquilhada, feridas de crescimento, liberdade estiolada pelo meio, fraqueza e afirmação, tudo converge em temas que se tornaram provavelmente clássicos para uma geração que tantas vezes se sente à deriva e à margem.
A força da sua música permanece a mesma de quando começaram, nos anos 90, e os últimos trabalhos, conquanto desiguais, revelam algum amadurecimento.
É verdade que os seus melhores discos já têm alguns anos. Mas se atentarmos nos Muse, também não foi com o último trabalho que se superaram. Tendo em conta o melhor que uns e outros fizeram, acredito que os Placebo fiquem numa posição favorável.
É a irreverência, e bendita seja ela.

posted by Anónimo @ 6:03 da tarde   15 comments
domingo, novembro 19, 2006
Grandes Momentos | Nuovo Cinema Paradiso
Um grande momento de cinema acarreta, na minha opinião, duas distintas características que, obviamente, podem estar interligadas. Assim, temos a componente mais técnica, a realização a fotografia, os desempenhos dos actores, entre outros, que nos deslumbram pela sua perfeição, Por outro lado, existem aqueles momentos que, independentemente da sua validade formal ou da sua qualidade cinematográfica permanecem intemporais pela sua capacidade de arrebatar quem os vê.

O momento que eu escolhi para ser o fundador da minha participação nesta nova rubrica é um dos momentos que se destaca pelo seu simbolismo e pela excelsa carga dramática. Refiro-me à cena final de Nuovo Cinema Paradiso. Nunca um culminar foi tão emocionante e tão grandioso na homenagem que faz ao cinema. É um final perfeito para um filme que toca e comove todos aqueles que o vêm. É uma ode à arte, ao cinema. Mas é também um belíssimo elogio ao amor, ao sentir… Acompanhado pela música de Morricone é impossível não nos deixar arrepiar e enfeitiçar por um final que considero dos melhores de sempre. Vejam e revejam porque definitivamente vale a pena!


posted by P.R @ 6:34 da tarde   7 comments
sábado, novembro 18, 2006
Vídeo da Semana | Aimee Mann | Save Me



If you could save me from the ranks of the freaks who suspect they could never love anyone…

Ela é a minha artista musical de eleição e esta é, provavelmente, a mais bela das suas canções, canção que integra aquele que é para mim o melhor dos seus discos («Bachelor nº 2»). É também o momento mais desarmante do filme Magnólia, que é, eventualmente, o melhor filme da década passada.

O clip é do mesmo Paul Thomas Anderson do filme, e nele podem reconhecer as suas personagens. Mas a voz de Aimee Mann, as suas palavras, a tradução de tantos de nós, constituem as razões cimeiras que motivaram esta escolha.
De todas as canções que seleccionei anteriormente para esta rubrica, esta é a que mais profundamente é “da minha vida”.
posted by Anónimo @ 11:36 da manhã   6 comments
sexta-feira, novembro 17, 2006
Mais uma biopic musical...

É definitivo, virou moda as biopics em terrenos musicais. Depois de Ray Charles, Johnny Cash, Elvis, Jeff Buckley , Freddie Mercury entre muitos outros, desta vez temos uma mulher, Debbie Harry a vocalista dos já velhinhos Blondie.

O filme centrar-se-á no início da carreira da cantora, mais especificamente nos tempos em que dançava em bares e pousava para a revista Playboy.

Ainda não há datas definidas, nem sequer realizador mas já foi escolhida a actriz. A eleita foi Kirsten Dunst e, sinceramente, parece-me uma boa escolha.
posted by P.R @ 11:54 da manhã   2 comments
terça-feira, novembro 14, 2006
98 octanas na selecção oficial do Festival de Turim

A produtora Clap Filmes, responsável pelo “98 Octanas” do realizador Fernando Lopes, anunciou hoje que o filme foi aceite para exibição no festival de Turim.

O filme que estreou nas salas de cinema no passado mês de Setembro, conta-nos a história de um homem, Dinis (Rogério Samora), e uma mulher, Maria (Carla Chambel) , que se encontram, acidentalmente, numa estação de serviço. Com argumento de Fernando Lopes e do crítico de cinema João Lopes, 98 octanas tem fotografia de Edmundo Diaz e música de Bernardo Sassetti.

Eu não vi o filme, mas não deixa de ser curioso que um filme que foi tão maltratado em Portugal veja a sua qualidade reconhecida lá fora….
posted by P.R @ 1:09 da tarde   0 comments
segunda-feira, novembro 13, 2006
Grandes Momentos | Une Femme est une Femme


Jean-Luc Godard é um nome familiar para qualquer cinéfilo e acredito que o fascínio que Godard exerce sobre nós jovens tem muito que ver com o simples facto de Godard ser também ele um cinéfilo, que transmutou esse amor maior ao cinema nos filmes que ele também fez. Talvez o fascínio por Godard incida sobretudo sobre os seus primeiros filmes, na explosão mágica da Nouvelle Vague.
O grande momento que escolhi é precisamente de um dos seus primeiros filmes, Une Femme est une Femme (em português Uma Mulher é uma Mulher), de 1961, protagonizado pela então sua musa e mulher Anna Karina.

Em Une Femme est une Femme, Anna Karina é Angela, a companheira de Émile (Jean-Claude Brialy) que insistentemente lhe pede um filho. Émile não quer, para já. E ela recorre a Alfred (Jean-Paul Belmondo), num jogo a três de brincadeiras de ciúme.
Quando finalmente Angela se apercebe que pode estar a perder o companheiro – quando Alfred lhe mostra uma fotografia de Émile com outra – é precisamente neste sublime momento de cinema. Não há diálogos das personagens, apenas a voz de Charles Aznavour cantando “Tu t’laisses aller” na jukebox do café. Ângela olha a fotografia, olha para algo (para si?), Alfred olha para ela. A canção toca. Na sincera confissão em tom de discussão, que culmina – após o rol de imperfeições que fazem o homem irritar-se com a sua mulher – com esse “malgré tout tu es ma femme” – declaração de amor das mais extraordinárias, porque assente na consciência do desencanto que o tempo sempre traz.

Quando pela primeira vez vi Une Femme est une Femme, na Cinemateca, as lágrimas rolaram-me pela cara nesta cena (já Angela dizia a dada altura que se devia proibir às mulheres não chorarem...). A perfeição existe no cinema e são momentos assim que o provam. Porque na imagem que Godard legou de Karina, neste e nos filmes que fizeram juntos, ele ensinou a forma ideal de se representar uma mulher, no fundo, a forma ideal de se amar uma musa «humana».

Apesar do momento que escolhi dever ser enquadrado no seu contexto, e para isso o visionamento completo do filme é indispensável, encontrei-o pelo YouTube e vou disponibilizá-lo aqui para os saudosistas e para os curiosos…

posted by Anónimo @ 11:31 da manhã   2 comments
sábado, novembro 11, 2006
Vídeo da Semana | Ben Harper | Morning Yearning


Eu confesso que não partilho do entusiasmo actual em relação aos artistas "boa onda". Jack Johnson, Donovan Frankenreiter e afins, só fazem mesmo música para surfistas que, quanto a mim, se esquecem tão depressa como a rebentação das ondas. Ben Harper é inspiração para muitos destes artistas e, mesmo sem me agradar particularmente, consegue pontos porque alcançou um estatuto que nenhum Jack Johnson pode aspirar. Então porquê esta música, perguntam vocês?

Porque sim, porque é fácil de se ouvir e tem um vídeo muito bom, com a particularidade de ter sido realizado por Heath Ledger. (sim, o actor) Música e cinema lado a lado, tal como no nosso Take a Break.
posted by not_alone @ 2:11 da tarde   1 comments
sexta-feira, novembro 10, 2006
Freddie Mercury no Cinema


Freddie Mercury, o mítico cantor dos Queen e conhecido pelas suas excentricidades que tantas polémicas provocaram há uns anos atrás nos ainda pudicos Estados Unidos, vai ter direito a uma biopic. Depois de Ray Charles, Johnny Cash, entre muitos outros, o guitarrista da banda Brian May, anunciou que o filme já está em fase avançada de produção e que acompanhará o percurso musical do cantor. Apesar de ainda não haver elenco definido, quer me parecer que não vai ser nada fácil interpretar este papel. Quem é que acham que daria um bom Freddie Mercury?
posted by P.R @ 9:58 da manhã   4 comments
terça-feira, novembro 07, 2006
David Fonseca nos Gato Fedorento
Este homem é um génio! Quem mais transformaria o "Afinal havia outra", êxito pimba de renome numa decente canção pop-rock com qualidade? Meus caros, isto é melhor que a cover dos Travis de "Hit me baby one more time"... isto é David Fonseca cantando "After all there was another" no programa semanal dos Gato Fedorento.
Estou rendida...

posted by Anónimo @ 7:42 da tarde   13 comments
Comedian


Ainda que não sendo um grande documentário, Comedian acaba por funcionar como um interessantíssimo olhar sobre uma das mais ingratas e complicadas tarefas que o homem tem de enfrentar: a de fazer rir. Como diz a certa altura um dos intervenientes: “mesmo que estivéssemos diante de Jack Nicholson, que toda a gente no mundo adora, e ele estivesse lá para nos fazer rir, apenas tinha uma margem de erro de 5 minutos, após a qual, se não estivesse a ser bem sucedido, começaria a perder o seu público”.

Comedian não tem Jack Nicholson, mas tem uma outra personalidade do mundo do espectáculo que toda a gente adora: Jerry Seinfeld, que dispensa logo à partida qualquer tipo de apresentação. E a proposta do filme de Christian Charles é a de acompanhar de perto o regresso do comediante mais bem sucedido dos últimos anos no regresso aos espectáculos em palco, percorrendo os mais variados clubes de comédia dos Estados Unidos. Ao longo dessa viagem, é possível notar uma evolução que, mesmo em alguém com a experiência de Seinfeld, é necessária na formação de todo o processo criativo. Assim, vemos a sua confiança no seu próprio material e nas suas capacidades a regressarem aos poucos, vemos o seu à vontade em palco a crescer e, com ele, o tempo de cada espectáculo e a coragem em enfrentar o público. No final, o comediante surge como essa figura carregada de dúvidas, como sendo o seu principal crítico e, finalmente, como alguém que procura a aceitação através do riso dos outros.

E numa jogada inteligente, Charles optou por construir o seu filme através de um paralelismo bastante interessante: assim, como contraponto à serenidade e à experiência de Jerry Seinfeld, temos Orny Adams, um comediante em início de carreira que tem tanto de genialmente cómico em palco como de absolutamente insuportável e egocêntrico fora dele. É difícil de saber até que ponto é que Orny representa diante das câmaras uma imagem que pretende passar, ou se tudo aquilo que ele faz e diz é verdadeiramente genuíno. Seja como for, aquilo que acaba por sobressair é a clássica ideia de que por detrás de cada funny man está um ser humano... tão humano como qualquer outro e, neste caso, o seu percurso chega mesmo a incomodar, porque a sensação que temos constantemente é a de estar diante de um homem que, por muita alegria que ofereça a desconhecidos nos seus espectáculos, nunca virá a realizar-se ele próprio.

Na sua curta duração (cerca de 80 minutos), Comedian consegue entreter o espectador devido, em grande parte, à qualidade dos seus intervenientes – os números escolhidos são divertidíssimos, e os cameos de outros comediantes famosos são mais do que muitos. Não optando por uma abordagem tão pungente e crua como se calhar poderia e deveria ter acontecido acaba por, ainda assim, ser um olhar ao mesmo tempo doce e amargo sobre a vida destas pessoas para quem ter piada é como ter oxigénio para respirar. O problema é que, enquanto a piada não surge, o caminho a percorrer até a encontrar pode ser particularmente ingrato.

posted by Juom @ 12:20 da tarde   0 comments
segunda-feira, novembro 06, 2006
Grandes Momentos | Batman Returns
Aviso: O texto seguinte contém spoilers e, se realmente existir alguém que ainda não tenha visto o filme, não o deve ler. Deve, isso sim, correr para o vídeo clube mais próximo!

Um bebé nascido com graves deformações físicas é abandonado pelos milionários pais, em plena época natalícia, nos sinistros esgotos de Gotham. Enquanto o seu berço navega sem rumo pelos gigantescos esgotos, o tema musical do genial Danny Elfman inicia um crescendo acompanhando os créditos enquanto ambos chegam ao cerne da questão: Batman Regressa.



Com este pequeno parágrafo fica então inaugurada esta nova rubrica do Take a Break, que nos levará a recordar aqueles que, por alguma razão, ficaram marcados como os grandes momentos de cinema das nossas vidas. É um espaço bastante pessoal e que, esperamos, pode servir também para nos darmos a conhecer um pouco melhor diante dos nossos leitores que, quem sabe, se poderão rever em alguns dos nossos comentários. Escusado será dizer que uma secção deste género irá revelar partes importantes dos filmes analisados, sendo que só deverá ser lida por aqueles que já viram os filmes em questão.

Prosseguindo, então, com este momento específico deste genial filme de Tim Burton, e com as razões pelas quais o considero como um dos melhores momentos de cinema a que já tive o privilégio de assistir. Imagine-se um jovem rapaz, na casa dos 10 anos, fã acérrimo do primeiro filme e em pulgas para assistir ao regresso de Batman, o seu herói favorito. O filme começa, e tudo lhe parece demasiado familiar – os ambientes góticos (ou, à falta de palavra melhor na altura, “muito escuros”), os acordes musicais... até que surge na tela o nome de Tim Burton, o mesmo que conseguia identificar nos créditos do primeiro Batman e de Edward Scissorhands. Assim, sem o saber, identifiquei o meu primeiro autor, compreendi que os filmes eram feitos por pessoas e que, entre elas, havia uma que se sobrepunha a todas as outras: o realizador de cinema, aquele que carregava consigo uma visão e a transportava para os meus olhos.

E o resto é história, sendo que é escusado dizer que sempre que revejo essa sequência de créditos me arrepio até ao tutano – se tudo me parece tão perfeito hoje em dia, imagine-se quando tinha 10 anos e me encontrava sentado no escuro da sala de cinema. Além de toda a “pica” que a sequência me oferece, há ainda o significado que ela carrega em si e desde logo marca o tom para o resto do filme – a solidão do carrinho de bebé no esgoto é reflectida de várias maneiras nas personagens daí em diante. Num filme carregado de cenas brilhantes (a morte do Pinguim, o beijo amargo por baixo do azevinho, ou Selina Kyle - interpretada pela lindíssima Michelle Pfeiffer pela qual me apaixonei completamente na altura - a chegar a casa depois de sofrer uma tentativa de homicídio, ainda me conseguem comover particularmente), esta certamente ficará como das mais marcantes da minha vida enquanto cinéfilo. Agora, com licença, vou só buscar o DVD e rever isto mais uma vez...

posted by Juom @ 10:58 da manhã   5 comments
domingo, novembro 05, 2006
Vídeo da Semana | Lenny Kravitz | If you can't say no




Lenny Kravitz é um dos grandes artistas que comprova a qualidade da música afro-americana da actualidade. A sua imagem agressiva e a voz que parece rasgar as palavras com a rouquidão característica, ganham corpo nas mais diferentes sonoridades. Deixo-vos esta "If you can't say no", um 'outro mundo', onde Milla Jojovich se deixa levar pelos acordes, e onde somos guiados por um objecto flutuante que quase nunca sai de cena. Ora parece uma luz que nos deixa ver melhor, ora parece uma câmara que nos observa atentamente...

posted by Ana Silva @ 12:05 da manhã   0 comments
sexta-feira, novembro 03, 2006
O Assobio da Cobra


Sejam bem-vindos ao “Da Cobra”, o bar da ‘bicharada’. O bar onde se encontra de tudo um pouco: o contador de anedotas que só nos faz rir por pena, o velho bêbado mas vivido, a mulher mal amada e a que pensa que sabe o que quer mas na verdade tem medo do mundo. O cenário está sempre a meia-luz, cheio de tons amarelados e avermelhados que transparecem o peso do que é sórdido e sujo. Ao mesmo tempo, o ambiente parece ser amenizado pela banda que permanece sempre em palco, compactuando individualmente com cada personagem: tocando para ela, com ela, juntando o seu tom às vozes que vão surgindo no decorrer da trama.

Quase todas as personagens (note-se, todas anónimas) têm o seu momento de protagonismo. O tom mesclado do palco vai dando lugar ao foco branco que destaca os pormenores de cada uma das vidas representadas. As mulheres são as usadas, as oferecidas, mas também as mais sofridas e tristes. Os homens mostram-se fortes, fazem “aquilo” e “aquiiiilo”, e revelam-se resistentes e dominadores. De facto, a trama parece-nos bastante clara até Diogo Infante entrar em cena. A sua personagem, que divide com Patrícia Vasconcelos (ao que tudo indica, uma estreante nestas andanças) representa o híbrido das nossas vidas, aqueles dias em que não sabemos bem quem somos ou o que queremos, aqueles momentos em que nos apetece fazer algo diferente e romper com os clichés sociais, ou aqueles em que simplesmente não queremos ter de escolher.

Apesar dos pormenores ricos e bastante peculiares da peça, como é o caso do ‘espelho’ que, mudo, nos conta mais um pouco de cada personagem, não posso dizer que “O Assobio da Cobra” é uma peça imperdível ou absolutamente fantástica. Há qualquer coisa que não nos consegue fixar, que não nos faz apaixonar. Por um lado, posso atribuí-lo à escassez das grandes vozes, um elemento típico e essencial nos musicais. Se temos de facto um elenco com grandes nomes (Diogo Infante, João Cabral, João Reis, Lia Gama…), as grandes vozes ficam pelo caminho, pois, na minha opinião, somente Diogo Infante consegue cantar a plenos pulmões, dominar o palco e ter pequenos grandes momentos ao longo da peça. O que realmente parece falhar é a sequência e encadeamento da história. Vão-nos lançando pequenas histórias, detalhes soltos, momentos musicais que não se enquadram na trama… enfim, acaba por ser um conjunto de pontas soltas que nunca se encontram e que acabam por não nos deixar apreciar o espectáculo de forma plena. Ainda assim, não posso deixar de referir a grande performance de Pedro Laginha e a qualidade de algumas das músicas apresentadas, da Ala dos Namorados.

É com alguma pena que deixo aqui esta mera opinião, de que “O Assobio da Cobra” não nos faz cair em tentação, nem nos deixa a vontade de olhar para trás, de aceder ao dito ‘assobio’. Este “Da Cobra” tenta mostrar-nos a metáfora da vida real, da vida que às vezes “parece que está um pouco curta nas mangas” mas que não é suficientemente sólida para enfiarmos a carapuça. Deixa-nos só algumas palavras no ouvido…
posted by Ana Silva @ 9:43 da tarde   3 comments
quarta-feira, novembro 01, 2006
Que a força esteja connosco!

Há muito, muito tempo numa galáxia distante…
Estas palavras mágicas dão acesso a um universo que está a partir de hoje mais próximo dos portugueses.
Uma monumental exposição referente ao universo Star Wars estará em exibição no Museu da Electricidade (Lisboa) até 14 de Janeiro de 2007 e arrisco dizer que se trata de do acontecimento do ano para os fãs da saga. São objectos, maquetes, figurinos, exibição das duas trilogias e muitas outras coisas para ver e participar.
O bilhete custa 10 euros e os horários da exposição são:
De Domingo a Quinta: das 10 às 20
Sexta e Sábado: das 10 às 22.
posted by Anónimo @ 10:14 da tarde   1 comments
Children of Men




Children of Men , um filme de Alfonso Cuarón, é adaptado do livro homónimo de PD James. Passado no ano de 2021, o caos está instalado num Reino Unido governado por um ditador onde a imigração clandestina atingiu níveis incomportáveis e onde a natalidade simplesmente desceu para zero, em mercê da inexplicável infertilidade das mulheres. É no meio desta anarquia violenta que Theo (Clive Owen) surge como defensor da humanidade, concordando em pôr em segurança a primeira mulher grávida em 20 anos.

Esta é a premissa do filme que me parece, de facto, bem interessante. No entanto, se a ideia por detrás do filme é boa, o aprofundar e o encandear dos acontecimentos nem sempre são bem conseguidos, tendo grande parte das personagens um parco desenvolvimento. De facto, o filme começa, no meu ponto de vista, bem e desenvolve-se de forma escorreita, apesar de nesse percurso existirem cenas nem sempre explicativas ou esclarecedoras dos acontecimentos. É no momento em que começa a maratona de salvação da humanidade que, para mim, existem as maiores debilidades do filme pois existem muitas facilidades demasiado “simpáticas” para as personagens que nem sempre são verosímeis. Por outro lado, existem uma grande lacuna ao nível da informação dada ao espectador para que ele perceba tudo o que passa ao redor das personagens e as motivações regentes dos seus actos.

Porém, pensar que não gostei do filme é uma conclusão errónea. Children of Men é um grande trabalho de Cuaron que, mais uma vez, revela a sua habilidade na construção dos ambientes, neste caso pesado, negro e sujo. Clive Owen é sem dúvida a estrela do filme, em mercê das fugazes participações de Julianne Moore e Michael Caine, e está à altura do papel sendo bem mais que competente na encarnação de Theo. Por outro lado, e apesar da escassez de informação, o ideal que está por detrás do filme, a esperança no futuro e no homem, é bem transmitida, na minha opinião. Ilustrativo disto mesmo é a grande cena em que Theo e Kee saiem de um prédio embalados pelo choro da criança que, mesmo que durante alguns minutos, consegue restituir alguma paz e tranquilidade aos homens.

Children of Men é um prodígio em termos técnicos e tem nos minutos finais o seu melhor, sendo a última cena o exemplo perfeito do melhor do filme. Porém, e devido às expectativas por mim criadas em seu redor, acaba por deixar um sabor amargo a desilusão uma vez que o argumento não consegue estar à altura de todos os outros aspectos e intervenientes.


Classificação:
posted by P.R @ 2:01 da tarde   1 comments
 

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